ANÁLISE ANTROPOLÓGICA DE CONFLITOS: INTERFERÊNCIA SOCIOAMBIENTAL E TECIDO SOCIAL A PARTIR DO CONTEXTO DA ATIVIDADE DE GARIMPAGEM EM TERRITÓRIO INDÍGENA

Abstract

Este trabalho propõe uma análise antropológica de conflitos culturais, tomando como exemplo a atividade de garimpeiros na Terra Indígena Yanomami, em Roraima. Com fundamento no conceito de fricção interétnica, de Roberto Cardoso de Oliveira, de subjetividade, de Sherry Ortner, e de cultura, de George Marcus, o texto discute um problema que vem se estendendo há décadas no extremo norte do Brasil, onde garimpeiros se infiltram clandestinamente no território indígena Yanomami, provocando desorganização social e ambiental entre os índios. O tema é direcionado para uma discussão teórica que visa a reajustar conceitos, propondo que,  em razão da interferência socioambiental dos garimpeiros sobre os índios, duas subjetividades distintas, cujas relações com os recursos naturais são diametralmente opostas, reproduzem uma situação de fricção interétnica pelo choque de culturas: a do garimpeiro (e por extensão de todos aqueles que apoiam ou se beneficiam dessa atividade econômica) e a dos Yanomami –  para aqueles, prevalece a relação exploratória dos recursos naturais, ao passo que, para estes, os pressupostos cosmológicos são pautados pela relação integrada entre ser humano e natureza. Esse conflito produz efeitos sobre as subjetividades em jogo, dando origem a um tecido social que, de forma contínua e mutável, expressa as complexas relações que se formam nesse processo de interferência socioambiental.